Wednesday, December 28, 2005

As Lisboetas e o S*xo

Um estranho fenómeno abala a alta sociedade universitária feminina portuguesa: o desejo de fazer Erasmus.

Passava eu, em dia pouco distante, a mão (em sentido descendente) pelo ventre de uma formosa moça que nos meus braços se enrolava, quando ela – estava eu já quase envolvido num transe sensual – me agarra o pulso com firmeza e acusa: “Estás maluco? O que é que te deu?!”.

Gelei, duro (é verdade, má escolha de palavras) que nem uma pedra. O que é que me deu?! Já viste onde é que estamos, dentro de um carro no meio da rua, enrolados em cima do banco da frente quase sufocados pelo vapor do vidro embaciado?? Eu só estou a seguir o procedimento!! Normalmente, é assim que se faz!

“O melhor é ires para casa”. A voz era tão autoritária que nem por um minuto hesitei, aliás nessa altura quem estava excitado era o meu cérebro, ansioso por ir para o ar fresco cogitar no que me acabara de acontecer.

Há uma franca incoerência na relação das mulheres portuguesas com o sexo. E vejamos, esta nem sequer era das chamadas “boas famílias” com “educação tradicional”. O que é que a faz pensar que fazer amor num automóvel é feio? Será que o fazer amor em si é feio, onde quer que seja..é isso? É que eu acho mais feio estar num carro meio despida e depois mandar-me embora, do que estar no carro meio despida e fazer um pouco de amor. Elas não. Porquê?

Uma frase comum da betinha universitária lisboeta, maçada com a repetição de pessoas para quem se maquilha todos os fins-de-semana, é o enfadado “Lisboa é uma seca!”, seguido do redentor “Para o ano vou mas é fazer Erasmus! Lá fora é que se está bem!”

Sugiro uma profunda meditação acerca deste posicionamento. “Lisboa é uma seca” digo eu! Porque até dar um beijinho na boca tenho de passar horas em discotecas, cinemas, cafés e restaurantes! Se calhar, Lisboa era menos seca se as habitantes de Lisboa (falo das do centro, na periferia há muito menos qualidade e muito mais disponibilidade) se libertassem do que quer que as ande a prender e aprendessem a desfrutar dos prazeres da vida e – desculpem lá, mas aqui não admito contra-argumento – o acto do amor é um dos maiores. Atrevo-me a escrever (a escrever, apenas, porque ai de mim se disser isto alto e bom som em público) que Lisboa é uma seca – sim, subscrevo esta frase delas – mas porque as meninas de Lisboa não praticam o amor com o prazer e a frequência que as fariam a elas e a nós felizes e – pior! – se o fizerem são olhadas pelas outras e – grave! Grave! – pelos seus coleguinhas de turma com desdém e nojo! (Nota: esse desdém e nojo dos colegas masculinos é fingido, mas não deixa de ser nocivo.)

Aqui, aproveito para apelar a todos os homens que tal se consideram, que banam do seu vocabulário palavras como “porca” e “p*ta”, bem como que apaguem das suas cabeças os sentidos e significados destas palavras.

Bom, e então o que fazem elas quando não suportam mais a seca que é ir sair à noite e voltar para casa de mãos a abanar (porque obviamente não encontraram o Príncipe Encantado e, em vez de se agarrarem à “next best thing”, preferem apanhar um táxi e dormir sozinhas)? Vão fazer Erasmus!!

Erasmus!! Será que elas sabem para que serve o Erasmus?? Será que não sabem que o programa nasceu da necessidade identificada pela União Europeia (CEE, na altura) de aumentar a natalidade bi-nacional na Europa, de forma a potenciar a integração?? (Inventei isto, mas podia ser verdade, portanto fica aqui.)

Depois, chegam ao estrangeiro e perguntam-se: “É só isto, o Erasmus?” e voltam 5 ou 10 meses depois desabafando..”Não era bem como eu esperava.. mas até foi giro..”

Minhas amigas, que vocês nos privem a nós lisboetas dos vossos malabarismos, eu ainda engulo (atenção, escolha de palavras inocente e de sentido único); mas que se privem a vocês mesmas de umas trincas internacionais é intolerável e indicador de uma qualquer privação mental que vos afecta a todas e que, se tivesse dado com um bocadinho mais força às vossas mães, teria inviabilizado a vossa vinda ao Mundo (ponho as mãos no fogo pelos vossos papás, que sem dúvida apenas depois de muitas mentiras e tentativas conseguiram convencer a vossa mãe a tentar conceber-vos).

Está na hora de os homens lisboetas pararem de insistir com as suas amigas.

Quando elas se virem privadas do que geralmente lhes compete a elas privar(não sei porquê, mas parece que compete mesmo) , pode ser que se lembrem de que por alguma razão 30% dos licenciados portugueses se pira para o estrangeiro quando acaba o curso.

Sunday, December 11, 2005

Galenas

Estou boquiaberto. Estou com uns headphones (ou auscultadores, para os puristas) e a minha mãe perguntou-me o que fazia eu ao computador "com umas galenas nos ouvidos"??

Umas galenas???

O que faço eu com umas galenas nos ouvidos..?! Boa pergunta! Eu sei o que faço, mas o que faço com umas galenas, realmente custa-me mais a responder.

Não sei, mãe!!

O que faço eu com umas "galenas" nos ouvidos, meus amigos??

Galenas!!

Que palavrão.

Saturday, December 10, 2005

Pequeno Adereço

Louçã: Queremos um Presidente de gravata!

Friday, December 09, 2005

Diálogos

Passou um verão de muita galhofa. Estamos de volta, prezados leitores e leitoras (permitam-me assumir que os autores não são os únicos leitores).

Que tal este diálogo (menos fictício na prática, do que real na sua essência) num hipotético local de trabalho?

As personagens são Carla, 35 anos, divorciada e mãe de duas filhas crianças, e Filomena, mãe solteira de um rapaz de 11 anos. São contabilistas, técnicas de segundo grau numa empresa pública.

São três da tarde. Uma ventoinha sopra com ritmo pausado o seu fôlego para o chão de madeira. Teclados ecoam vagarosamente nas pareces brancas: é o fecho do mês. Também é sexta-feira e quinta foi feriado. Há pouca gente na repartição.

Fez-se (mais) uma pausa para café, e os cigarros consomem-se, intocados, entre os dedos entusiasmados das duas colegas.

Começa Carla: “Ai a minha Mariana já sabe ler!! Noutro dia estávamos em casa a ver televisão, ela pegou no seu livrinho e leu tud…”

Filomena, ansiosa por dar a sua opinião: “Ah o João não, o João já lê desde os 3 anos, sempre foi um miú…”

- …ela tem um livrinho sobre cavalinhos que está sempre a ler, adora ler; e é tão giro, noutro dia ela disse-me: “Oh mãe, sabias que…

- …O João lê de tudo, ficção cientifica, poesia; ainda noutro dia a avó o levou ao jardim e lhe comprou um gelado e ele disse logo: “Oh avó, eu quero é um livro.” Ai a minha mãe dá-lhe tudo o que ele quer. Olha, noutro dia foram…

-…e ainda por cima, os cavalinhos são super didácticos, percebes? A Mariana ado….

-….noutro dia foram ao cinema, e a avó compr….

-…a Mariana adora os cavalinhos porque…

-…a avó comprou-lhe um livro de banda dese…

-…A Mariana adora cavalinhos pois, isso é que ela adora, passa os dias…

-… mas o miúdo não gosta de Banda desenhada tás a perceber, o João é um miúdo muito esperto, muito curioso, o que ele gosta é de…

-…ainda noutro dia a levei ao Jardim Zoológico e ela só queria ver cavalos. Sabes aqueles castanhos, árabes? Olha foi tão giro, primeiro fomos almoçar ao restaurante dos macaquinh….

- …adora poesia, autores russos, lê muito Charles Dickens, livros ingleses, fran…

-…Ela adorou! Esteve a dar comidinha aos mac…

-…Pois, o meu por acaso gosta mais de ler. Bem, vou trabalhar, até log…

-…O que ela mais gosta é dos chimp…

-…Pois…que giro..!

-…E os chimpanzés são engraçados, agarraram-se aos cabel..

-…Pois..Até logo!

-…Ai hoje ainda tenho de ir buscá-las ao colégio, que chatice.

-…Pois, é complicado..Como é que se chama, a tua miúda?

- Mariana! É tão lindinha.

- Ah Mariana. Não me lembrava; o meu é João.

- João, que giro, tinha ideia que era Pedro.


Afastam-se. Cai a cortina (e a cinza).

Cai, também, mais um pouco de uma solidão inacabada.