As Lisboetas e o S*xo
Passava eu, em dia pouco distante, a mão (em sentido descendente) pelo ventre de uma formosa moça que nos meus braços se enrolava, quando ela – estava eu já quase envolvido num transe sensual – me agarra o pulso com firmeza e acusa: “Estás maluco? O que é que te deu?!”.
Gelei, duro (é verdade, má escolha de palavras) que nem uma pedra. O que é que me deu?! Já viste onde é que estamos, dentro de um carro no meio da rua, enrolados em cima do banco da frente quase sufocados pelo vapor do vidro embaciado?? Eu só estou a seguir o procedimento!! Normalmente, é assim que se faz!
“O melhor é ires para casa”. A voz era tão autoritária que nem por um minuto hesitei, aliás nessa altura quem estava excitado era o meu cérebro, ansioso por ir para o ar fresco cogitar no que me acabara de acontecer.
Há uma franca incoerência na relação das mulheres portuguesas com o sexo. E vejamos, esta nem sequer era das chamadas “boas famílias” com “educação tradicional”. O que é que a faz pensar que fazer amor num automóvel é feio? Será que o fazer amor em si é feio, onde quer que seja..é isso? É que eu acho mais feio estar num carro meio despida e depois mandar-me embora, do que estar no carro meio despida e fazer um pouco de amor. Elas não. Porquê?
Uma frase comum da betinha universitária lisboeta, maçada com a repetição de pessoas para quem se maquilha todos os fins-de-semana, é o enfadado “Lisboa é uma seca!”, seguido do redentor “Para o ano vou mas é fazer Erasmus! Lá fora é que se está bem!”
Sugiro uma profunda meditação acerca deste posicionamento. “Lisboa é uma seca” digo eu! Porque até dar um beijinho na boca tenho de passar horas em discotecas, cinemas, cafés e restaurantes! Se calhar, Lisboa era menos seca se as habitantes de Lisboa (falo das do centro, na periferia há muito menos qualidade e muito mais disponibilidade) se libertassem do que quer que as ande a prender e aprendessem a desfrutar dos prazeres da vida e – desculpem lá, mas aqui não admito contra-argumento – o acto do amor é um dos maiores. Atrevo-me a escrever (a escrever, apenas, porque ai de mim se disser isto alto e bom som em público) que Lisboa é uma seca – sim, subscrevo esta frase delas – mas porque as meninas de Lisboa não praticam o amor com o prazer e a frequência que as fariam a elas e a nós felizes e – pior! – se o fizerem são olhadas pelas outras e – grave! Grave! – pelos seus coleguinhas de turma com desdém e nojo! (Nota: esse desdém e nojo dos colegas masculinos é fingido, mas não deixa de ser nocivo.)
Aqui, aproveito para apelar a todos os homens que tal se consideram, que banam do seu vocabulário palavras como “porca” e “p*ta”, bem como que apaguem das suas cabeças os sentidos e significados destas palavras.
Bom, e então o que fazem elas quando não suportam mais a seca que é ir sair à noite e voltar para casa de mãos a abanar (porque obviamente não encontraram o Príncipe Encantado e, em vez de se agarrarem à “next best thing”, preferem apanhar um táxi e dormir sozinhas)? Vão fazer Erasmus!!
Erasmus!! Será que elas sabem para que serve o Erasmus?? Será que não sabem que o programa nasceu da necessidade identificada pela União Europeia (CEE, na altura) de aumentar a natalidade bi-nacional na Europa, de forma a potenciar a integração?? (Inventei isto, mas podia ser verdade, portanto fica aqui.)
Depois, chegam ao estrangeiro e perguntam-se: “É só isto, o Erasmus?” e voltam 5 ou 10 meses depois desabafando..”Não era bem como eu esperava.. mas até foi giro..”
Minhas amigas, que vocês nos privem a nós lisboetas dos vossos malabarismos, eu ainda engulo (atenção, escolha de palavras inocente e de sentido único); mas que se privem a vocês mesmas de umas trincas internacionais é intolerável e indicador de uma qualquer privação mental que vos afecta a todas e que, se tivesse dado com um bocadinho mais força às vossas mães, teria inviabilizado a vossa vinda ao Mundo (ponho as mãos no fogo pelos vossos papás, que sem dúvida apenas depois de muitas mentiras e tentativas conseguiram convencer a vossa mãe a tentar conceber-vos).
Está na hora de os homens lisboetas pararem de insistir com as suas amigas.
Quando elas se virem privadas do que geralmente lhes compete a elas privar(não sei porquê, mas parece que compete mesmo) , pode ser que se lembrem de que por alguma razão 30% dos licenciados portugueses se pira para o estrangeiro quando acaba o curso.