O ócio do Polvo
Certo dia, ao regressar a casa com os bolsos cheios com os direitos de autor de mais uma edição d' "O Capital", Karl Marx passa por causa do seu barbudo amigo Engels e desafia-o para um passeio até à costa, para "limpar os pulmões do ar poluído desta imunda cidade operária, meu caro Friedrich." Radiante, pois já há dias que não saía da sua sumptuosa biblioteca, Engels concordou imediatamente e os dois amigos partiram no primeiro comboio rumo a costa, por entre sorrisos cúmplices e uma bela cartada, regada com whisky e charutos. Cubanos, claro.
Mal chegaram à última vilazinha antes da praia, sentaram-se numa mesa em frente ao mar sorvendo deliciados o melhor vinho da região e aspirando a doce brisa do mar. "Oh rapazinho" - pergunta Karl (a partir de agora, para agradar aos nossos amigos lusófonos, Carlos) - "o que é que tem de bom para matar o bicho?"
Empregado: "Oh Senhor Doutor!! Temos aqui um polvinho do melhor que há, acabadinho de fazer!"
Carlos: "Ah, não posso com povinho!"
Engels (Frederico): "E com vinho?"
Carlos: "Ah ah ah! Com vinho sim! Com vinhaça sim!"
Frederico: "Ah ah ah!"
Carlos: "Ah ah ah!"
Empregado: "Ah ah ah! Povinho! Ora essa! Polvinho meus senhores!! Polvo aqui da costa! Não me diga que não gosta?!"
Entendendo o seu erro de compreensão, os dois amigos recompõem-se nas suas cadeiras (de tanto rir, estavam já esparralhados na ponta dos assentos) e, olhando seriamente um para o outro numa cintilante cumplicidade, consentem ao empregado que traga então o polvo, "já que está tão bom.."
Brilhava, nesse dia, o Sol com grande intensidade, mas a proximidade do mar controlava a temperatura, deixando-a no limiar primaveril que caracteriza os fins de tarde junto ao mar. Os dois amigos, cansados de uma árdua semana de manifestação sindical, aproveitam cada minuto do seu pachorrento descanso, disfrutando da luz do mar e da brisa da maresia, entre dois dedos de animada conversa e cinco ou seis copos de frutuoso vinho.
Quando chegou o polvo, já os dois amigos pingavam um embriagado suor das suas longas barbas, o que ainda mais lhes abriu o apetite. A visão desse instante, foi - aliás - deprimente, embasbacando toda a clientela: dois gordos da cidade, bêbados que nem um cacho, lançando-se à travessa sem dó nem piedade, acabando com ela em menos de nada. Dada a enorme da dimensão da dose, pouco tardou para que começassem as flatulências e os arrotos, findos os quais os nossos amigos se recostam nas suas cadeiras e, refastelando as mãos sobre os volumosos estômagos, se entregam a uma merecida digestão:
Carlos: "Ah Frederico..que beleza de fim de tarde.."
Frederico: "Meu Deus, que maravilha..nem me fales! Comi..pá..comi que nem um porco!"
Carlos: "Também eu! Olha para isto" [exibe a sua barriga inchada]
Frederico: "Ena pá.."
Carlos: "Realmente, adoro a costa..as gaivotas, o mar, estas pessoas nascidas para servir..aqui é que me sinto à rei, ahn!"
Frederico: "É uma maravilha. Adoro esta região."
Carlos: "E este ócio..não se faz nada. Odeio trabalhar. Um gajo esfola-se todo e ainda tem de pagar impostos para sustentar aqueles operários miseráveis."
Frederico: "Cabrões."
Carlos: "Já foste à missa, hoje?"
Frederico: "Esqueci-me!! Que chatice..vamos logo à tarde, paciência."
Carlos: "Sem falta pá. [Fecha os olhos] Hum..que ócio, repito, que ócio.."
Frederico: "E que beleza de sítio..que beleza de região.."
Carlos: "E o polvo, que beleza de polvo.."
Frederico: "Eh pá..esta região..este mar..este polvo..isto..pá isto é a região do ócio!"
Carlos: "O ócio do polvo!"
Frederico: "O ócio do polvo..! Ah ah ah!"
Carlos: "Ah ah ah! Pá esta região.."
Frederico: "Esta região.. a região.."
Nesse momento, os dois amigos olham um para o outro, páram todos os músculos do corpo por breves momentos e, antes de explodirem num riso tão estondoso e macabro que haveria de rebentar com um continente, e destruir uma geração em metade do Mundo, soltam, do fundo dos seus pulmões e das suas casmurrices, a frase que haveria de os tornar célebres, bem para além da raquítica esplanada e muito para lá daquele fatídico fim de tarde, eternizando até hoje e de hoje para sempre as suas sete palavras, num momento de separação histórica entre os povos da terra e entre estes e os povos do Céu:
"A região é o ócio do polvo!"
Mal chegaram à última vilazinha antes da praia, sentaram-se numa mesa em frente ao mar sorvendo deliciados o melhor vinho da região e aspirando a doce brisa do mar. "Oh rapazinho" - pergunta Karl (a partir de agora, para agradar aos nossos amigos lusófonos, Carlos) - "o que é que tem de bom para matar o bicho?"
Empregado: "Oh Senhor Doutor!! Temos aqui um polvinho do melhor que há, acabadinho de fazer!"
Carlos: "Ah, não posso com povinho!"
Engels (Frederico): "E com vinho?"
Carlos: "Ah ah ah! Com vinho sim! Com vinhaça sim!"
Frederico: "Ah ah ah!"
Carlos: "Ah ah ah!"
Empregado: "Ah ah ah! Povinho! Ora essa! Polvinho meus senhores!! Polvo aqui da costa! Não me diga que não gosta?!"
Entendendo o seu erro de compreensão, os dois amigos recompõem-se nas suas cadeiras (de tanto rir, estavam já esparralhados na ponta dos assentos) e, olhando seriamente um para o outro numa cintilante cumplicidade, consentem ao empregado que traga então o polvo, "já que está tão bom.."
Brilhava, nesse dia, o Sol com grande intensidade, mas a proximidade do mar controlava a temperatura, deixando-a no limiar primaveril que caracteriza os fins de tarde junto ao mar. Os dois amigos, cansados de uma árdua semana de manifestação sindical, aproveitam cada minuto do seu pachorrento descanso, disfrutando da luz do mar e da brisa da maresia, entre dois dedos de animada conversa e cinco ou seis copos de frutuoso vinho.
Quando chegou o polvo, já os dois amigos pingavam um embriagado suor das suas longas barbas, o que ainda mais lhes abriu o apetite. A visão desse instante, foi - aliás - deprimente, embasbacando toda a clientela: dois gordos da cidade, bêbados que nem um cacho, lançando-se à travessa sem dó nem piedade, acabando com ela em menos de nada. Dada a enorme da dimensão da dose, pouco tardou para que começassem as flatulências e os arrotos, findos os quais os nossos amigos se recostam nas suas cadeiras e, refastelando as mãos sobre os volumosos estômagos, se entregam a uma merecida digestão:
Carlos: "Ah Frederico..que beleza de fim de tarde.."
Frederico: "Meu Deus, que maravilha..nem me fales! Comi..pá..comi que nem um porco!"
Carlos: "Também eu! Olha para isto" [exibe a sua barriga inchada]
Frederico: "Ena pá.."
Carlos: "Realmente, adoro a costa..as gaivotas, o mar, estas pessoas nascidas para servir..aqui é que me sinto à rei, ahn!"
Frederico: "É uma maravilha. Adoro esta região."
Carlos: "E este ócio..não se faz nada. Odeio trabalhar. Um gajo esfola-se todo e ainda tem de pagar impostos para sustentar aqueles operários miseráveis."
Frederico: "Cabrões."
Carlos: "Já foste à missa, hoje?"
Frederico: "Esqueci-me!! Que chatice..vamos logo à tarde, paciência."
Carlos: "Sem falta pá. [Fecha os olhos] Hum..que ócio, repito, que ócio.."
Frederico: "E que beleza de sítio..que beleza de região.."
Carlos: "E o polvo, que beleza de polvo.."
Frederico: "Eh pá..esta região..este mar..este polvo..isto..pá isto é a região do ócio!"
Carlos: "O ócio do polvo!"
Frederico: "O ócio do polvo..! Ah ah ah!"
Carlos: "Ah ah ah! Pá esta região.."
Frederico: "Esta região.. a região.."
Nesse momento, os dois amigos olham um para o outro, páram todos os músculos do corpo por breves momentos e, antes de explodirem num riso tão estondoso e macabro que haveria de rebentar com um continente, e destruir uma geração em metade do Mundo, soltam, do fundo dos seus pulmões e das suas casmurrices, a frase que haveria de os tornar célebres, bem para além da raquítica esplanada e muito para lá daquele fatídico fim de tarde, eternizando até hoje e de hoje para sempre as suas sete palavras, num momento de separação histórica entre os povos da terra e entre estes e os povos do Céu:
"A região é o ócio do polvo!"
0 Comments:
Post a Comment
<< Home